quinta-feira, agosto 06, 2009

O último concerto a que fui...


Foi já no longínquo dia 20 de Junho, às 22h00, que assisti no Castelo de São Jorge ao concerto dos Deolinda.


O espectáculo estava inserido na Festa do Fado e neste concerto, para além dos Deolinda, podíamos ouvir também a voz da Cristina Branco, em dueto com a Ana Bacalhau, ou a solo.

Estava uma noite de verão espectacular e havia muita gente a assistir, sinal da boa aceitação que o fado tem neste momento entre as camadas mais jovens e de como o fado vive um momento muito saudável.

Continuo a achar que não está directamente relacionado com algum tipo de inovação que os novos intérpretes tenham trazido para o fado, mas antes com o facto de serem pessoas novas a interpretá-lo, com uma postura mais descontraída, ou pelo simples facto de o público mais jovem se rever naqueles rostos, nas vozes, por se sentirem mais próximos e com mais em comum.

Quanto ao concerto, propriamente dito, começou com as canções Mal por mal, Fado Toninho e Não sei falar de amor, temas do álbum de estreia dos Deolinda.

A banda encontra na Ana Bacalhau um poderoso argumento ao vivo, não só pela voz, mas também pela relação que ela estabelece com o público, contagiando-o com uma forte energia e boa disposição - nem o facto de os pavões residentes no castelo se manifestarem por vezes a meio das canções a fez tremer.

A entrada de Cristina Branco foi apresentada como “uma das mais belas vozes do fado actual” e veio trazer um pouco mais de “fado” à noite, com um leve tom de nostalgia com a música “Lisboa não é a cidade perfeita”.

Todos os temas tiveram sempre um interlúdio, um pequeno enquadramento “estórico”, como que estando a vocalista a contar estórias para adormecer, pela doçura e delicadeza com que a vocalista dos Deolinda nos transmite os significados daquilo que canta.

Ainda houve lugar a duetos, como em “Margarida”, poema de Álvaro de Campos, com as vozes das duas vocalistas a nem sempre encaixarem muito bem, mas a resultar naquilo que se pretendia – um ambiente festivo e descontraído.

No final, quando o público pedia mais, os Deolinda regressaram ao palco para repetir alguns temas, porque a verdade é que a banda ainda só tem um trabalho editado. Se calhar já era altura de pensar num novo trabalho e perceber se são mais um fenómeno condenado ao esquecimento, ou se vão por cá andar muitos anos.

Seja como for, é bom ver a música portuguesa a salvar-se a si mesma, sem ser preciso impingir as tais cotas nas rádios, que estabelecem mínimos de música nacional a rodar no airplay. E isto apesar de, pelo menos na minha humilde opinião, bandas como os Deolinda , ou num espectro mais rock, os Pontos Negros e outros que tais, tenham beneficiado muito da exposição na Antena 3, rádio que tem estado muito associada ao lançamento e promoção de bandas nacionais. Se calhar também porque tem procurado grupos novos e artistas, não se fixando no tradicional cancioneiro que afastava os ouvintes da música que por cá se faz.

Isto tudo para dizer, também, que no estrageiro já não somos só a Amália Rodrigues. Temos muita gente a levar o nome do nosso país, apesar de alguns não terem tanto feed-back junto do nosso país como por exemplo a Mariza, que tem sido apontada como sucessora da Amália, provavelmente até pela projecção que tem tido lá fora. Bandas como os Moonspell, Deolinda, X-Wife, Legendary Tiger Man, etc, têm tido uma boa exposição junto dos públicos estrangeiros. No caso da Cristina Branco, por exemplo, ela tem muito público na Holanda, onde se calhar até goza mais prestígio que dentro do seu próprio país.

Por tudo isto e mais alguma coisa, fico feliz por ter assistido a este concerto, naquela bela noite de verão e mais fico por ver a música portuguesa a ganhar um grande fôlego e a sair da zona de segurança a que sempre fomos remetidos. Temos muitos e novos projectos, que só precisam que seja dada a oportunidade de tocar e promoverem-se a si próprios, pela sua qualidade.


Alinhamento

1. Mal por mal

2. Fado Toninho

3. Não sei falar de amor

4. Contado ninguém acredita

5. Lisboa não é a cidade perfeita (Cristina Branco)

6. Fado mal passado (letra de Júlio Pomar e música de António Vitorino d’Almeida)

7. Quando janto em restaurantes

8. Fon fon fon

9. Eu tenho um melro

10. Ai rapaz

11. Canção ao lado

12. Entre Alvalade e as Portas de Benfica

13. Margarida (Ana Bacalhau + Cristina Branco)

14. Sete pedaços de vento (Ana Bacalhau + Cristina Branco)

15. Garçonete da casa de fado

16. Movimento Perpétuo Associativo

17. Clandestino

18. O fado não é mau

19. É ou não é (Homenagem ao fado)

20. Fado Castigo (Ana Bacalhau + Cristina Branco)

1 comentários:

Anónimo disse...

Deolinda são de facto uma excelente banda! Já os vi ao vivo e adorei. As canções novas que vão apresentando auguram mais um excelente disco. O primeiro deles tive mesmo de comprar já depois de o ter sacado da net. Muito bom!
Bjs