domingo, setembro 16, 2007

E ao findar do dia...

Mais um copo de veneno, mais um tempero ameno. Estou sereno, escrevo ao ritmo frenético dos sons, dos tons... busco inspiração em coisas pequenas. Nada de sofrimentos, alheamentos, enfadamentos.
Entretanho-me a brincar com a escrita, como quem experimenta cores de uma paleta imaginária.
Hoje não tenho medo; amanhã talvez.
"Good night and good luck".

segunda-feira, setembro 03, 2007

Apontamento

O mundo move-se, com tédio, numa dinâmica contraditória, insatisfatória, desejo de evasão.
O mundo fede, fode, funde-se e finge que cada qual é como cada qual, que tal, com cada cabeça, uma moral. Mas somos todos da mesma massa; assim se passa.
São tudo expectativas, mapas, cartografia emocional, metas, merdas, margens - falhamos todas. O vazio é tão grande, que o espectro descreve um arco absurdo de complexidade, tantos aspectos, tantas opiniões. Mas o vazio é sempre vazio. Porque a dinâmica é imutável - nascer, crescer, morrer.

sábado, setembro 01, 2007

Crítica de uma crítica

A ignorância não tem tempo ou lugar, ela prolifera. Quando apanho o autocarro, ou quando espero na fila do super-mercado, sou confrontado com a dita (a ignorância). Grave é quando a ignorância se revela nas opiniões técnicas, por vezes pouco apuradas. Não está em causa o gosto de cada um. Antes, a inabilidade para discernir o preto do branco.
Não me quero dizer fã de Slime Fingers, mas sou um seguidor do trabalho da banda de Torres Novas e confesso que considerei hilariante a crítica a que foram sujeitos - no texto referente ao concerto que decorreu na Meia Via, no dia 5 de Maio. Será possível errar tanto?
Vejamos; que a voz revela problemas é bastante óbvio, mas sejamos honestos e lúcidos para perceber que a única falha em termos de vocalizações se prende com uma falta de grandeza, a grandeza que a instrumentalização representa. O frontman dos Slime Fingers não arranha por caminhos indevidos, porque embora revele uma certa inabilidade para cumprir uma boa prestação, revela também uma clara noção de melodia e de encaixe, de perfeição formal – talvez falte a atitude de um frontman, um lead singer, que não alguém que se esconde atrás da guitarra.
Agora, o que eu não entendo é a perspectiva sobre o instrumental. Onde raio está a influência nu metal que é referida? Será que o peso da guitarra hoje é dia é princípio para a conotação com a sonoridade nu metal? Fui à wikipedia tentar perceber melhor o fenómeno do nu metal/nü metal/new metal (em português, metal novo). “Ausência marcada de solos de
guitarra e outros resquícios de virtuosismos típicos do Heavy metal.
Constante variação entre vocal “choroso” (
Korn, Limp Bizkit) ou suspirado (Deftones) e vocal “gritado”, raivoso ou as vezes Melódico (Incubus, Sevendust e Linkin Park).
Alguma influência da
Música electrónica, adquirida do Metal industrial e variações britânicas do Breakbeat, como é o caso do Jungle e do Drum n’ Bass.
Uso de
DJ, principalmente para accionar os samples e para efeitos de "scratch e Turntables".
Uso variado de instrumentos diferentes, tornando cada banda única por seus diferenciais.” ...perdoem-me a ironia, mas estamos claramente perante uma banda com grandes influências nu metal... a começar pela ausência de solos com que os Slime Fingers nos brindam.
Depois não entendo a antítse, a contradição de ideias, o disparate: a banda tem potencial ao nível do instrumental, mas ao mesmo tempo não sabem que rumo tomar? Uma banda sem rumo não tem potencial, tem contas a fazer e ideias a explanar. É do senso comum e do bom senso – é preciso ter rumos definidos quando se compõe metal progressivo, ou há o risco de divagação, contradição, disparate. O mesmo princípio aplica-se aos textos jornalísticos.
Sobre a atitude punk, referida como dispensável, faz parte de uma abordagem que considero inteligente por parte da banda. O Metal progressivo não prima pela interacção com o público ou grandes estados de extase em palco. É preciso saber digerir esta sub-categoria do metal e é preciso gostar muito, ou torna-se aborrecido – é muito técnica. Trata-se de uma nuance estilística, não um problema de qualidade.
Depois de ler a crítica "fiquei-me" a contemplar o remate: “a banda de Torres Novas necessita de bastante trabalho”. Curiosamente, concordo. É preciso é que também quem escreve se dê ao trabalho, não se fique pela crítica fácil.