domingo, novembro 06, 2011

Gogol Bordello - "Pala Tute" - Live Jools Holland



Garante-me o meu sobrinho, que tem cinco anos, que esta é a música preferida dele. Esta e “a dos Cowboys”.
O comentário é ingénuo, mas a relação que se cria com a música é, do meu ponto de vista, tão ingénua quanto isto. Podemos apreciar a música de várias formas, quer procuremos originalidade, criatividade, ou cacetada com fartura. Mas a afinidade que se cria com uma música ou uma banda parte muito da relação sentimental/hormonal que a mesma suscita.


E é tão fácil criar afinidade com estes Gogol Bordello. São rock, são populares, são étnicos. Agora que a cultura dos Balcãs se tornou (há já uns anos - obrigado Kusturika) um fenómeno de popularidade, é fácil gostar da banda que diz practicar “Punk Cigano”, uma designação que poderá até englobar uma parte daquilo que faz (que é muitas vezes popularucho, e leia-se sem sentido pejurativo), mas não descreve a totalidade do trabalho e obra da banda.


Quem já teve oportunidade de descobrir a discografia da banda vai descobrir muita guitarrada, mas também alguma influência de grupos mais ecléticos que pegaram na electrónica para dar vida à musica tradicional dos mais variados pontos do mundo, ou aquilo a que se convencionou designar “World Music”.


Depois, temos nesta banda um aspecto fundamental, que é a boa disposição. Suponho que suspiram por eles na latada de Coimbra, como se fosse a banda talhada para animar a massa estudantil e como era seria interessante juntá-los aos “nossos” Homens da Luta!


A sua movimentação em palco contribui para uma animação permanente e assistir a um concerto de duas horas deve ser o equivalente a uma maratona.
Musicalmente, para lá do óbvio Eugene Hutz, o vocalista/animador (que tem um sotaque inglês péssimo, mas a banda sem ele, não seria a mesma banda), temos uma óptima dupla violino/acordeão e uma secção rítmica que cria um óptimo rendilhado que nos põe a bater o pé e a abanar a anca (gosto imenso do baixista que apenas num ou dois momentos  se permite um virtuosismo ainda assim discreto) e a voz de apoio de todos, mas principalmete da menina de ar oriental, ajudam a criar uma massa sonora onde podemos, se procurando atentamente, encontrar todos os instrumentos reproduzidos em palco.

domingo, setembro 18, 2011

The Zutons - Valerie - Live Jools Holland


Primeiro: este tema deve hoje ser muito mais conhecido por ter sido interpretado pela falecida Amy Winehouse.

Segundo: recordo de, em miúdo, reparar que muitas bandas Pop tinham saxofones e que “acabaram” com isso.

Terceiro: Isto é do “mais” boa onda que há.

Recordo também de me ter chegado às mãos um álbum do grupo há uns anos atrás e ter ouvido mais umas vezes o álbum depois de ouvir a versão de Amy Winehouse e de, inclusivamente, ouvir um ex-colega de trabalho, dos meus tempos a trabalhar numa operadora móvel nacional, dizer fascinado que tinha descoberto a versão original do tema.

E ainda me lembro de há uns meses atrás ouvir esse mesmo álbum com um amigo e discutir assuntos essenciais e urgentes como artes marciais, desenhos animados e música de forma geral.


São muitas recordações, é caso para dizer.


Depois de ler algumas coisas sobre a banda (cuja média de idades é curiosamente baixa), decidi colocar de lado todas as catalogações que tive oportunidade de ver serem usadas para descrever o som da banda e denominar o seu estilo de “Rock Bonzinho”. No entanto, é importante informar o leitor incauto que na verdade não se trata de uma banda daquelas “sem sal” e que há aqui muita coisa boa, nomeadamente o baixo, que enche o tema todo de energia positiva e um saxofone que dá um bonito colorido ao tema sem querer se sobrepor a nada – como aliás acontece a todos os grandes temas, em que os instrumentos não são intrusos, por assim dizer.

Para terminar, devo admitir que me senti impelido a colocar neste "post" fotos do meu elemento preferido da banda, a menina Abi Harding, a saxofonista da banda. Acrescento ainda um vídeo onde a mesma responde a algumas perguntas interessantes e outras sem interesse nenhum, porque com aquele rosto e aquele delicioso sotaque, até podia estar a ler as contra-indicações de um medicamento qualquer que adoraria na mesma ver/ouvir.



 


(Fotos "emprestadas" pelo Google Images)

domingo, setembro 11, 2011

Sia - "Buttons" - Later With Jools Holland



Nesta série de textos sobre actuações no programa Jools Holand tive já oportunidade de referir algumas bandas/artistas que já conhecia, melhor ou pior, ou cujo nome tinha já visto referido nalgum lado.

Neste caso, a actuação é de uma artista australiana cujo nome desconhecia, embora desconfie que já me falaram sobre a mesma numa noite destas, já aqui há tempos.

Claro que, não conhecendo, é preciso ir saber quem é – e não é que me andava a escapar uma artista com grande actividade artística? E que por acaso a cantora já participou em álbuns de um grupo de que gosto bastante, os Zero 7? E que já fui muito feliz ao som do álbum estreia desse mesmo grupo e que esta menina canta temas como “Destiny”, um dos melhores desse primeiro trabalho?

No entanto, Sia Furler, nome de baptismo da vocalista, tem também já algum trabalho editado a solo (três álbuns e alguns singles) e assina aqui um tema bastante diferente do trabalho que desenvolvia com os Zero 7.

A solo apresenta uma estética mais descontraída e muito mais próxima de uma pop primaveril, mas que se destaca das demais propostas do género. Pelo registo, sobretudo.

No caso deste vídeo e deste tema, que se aproxima do universo infantil, Sia parece mostrar aos adultos como se vive num mundo longe do cinzentismo do dia-à-dia, alusões ao fluorescente usado na apresentação à parte.

E se a estética é leve e descontraída o tema é uma forma descontraída de dizer “eu sou assim”, “I’m seeing ghosts in everything”, “I am no good for you”, “Get away from me lover, away from me lover”. Porque o tema também nos diz “Can’t you see that I am losing my marbles”, mas que na verdade “It’s marvellous losing another, losing another”.

Assumidamente bissexual, Sia pode cantar-nos aqui o caminho para o alívio da existência como penitência, castigo de nascer e caminhar para morrer.  E não me estou a referir à bissexualidade. Antes a qualquer coisa como uma nota dos pais que é entregue à professora a libertar-nos de mais um dia de aulas. Como se nos quisesse ofuscar com as cores garridas (aqui sim, alusão ao fluorescente), cegar-nos e fazer-nos ver novamente - destruir para construir.

Em termos musicais, é preciso acrescentar um dado: Sia Furler é compositora e tem escrito para algumas das divas da pop, como é o caso de Beyoncé ou Christina Aguilera. Uma experiente escritora de canções, Sia compôs este “Buttons”, um tema que é marcado por um baixo cheio e bem gordo, coladinho a uma bateria simples (não confundir com básica; grande trabalho de prato-tarola). E a urgência com que Sia canta o tema  não revela um ataque vocal agressivo, mas revela uma grande intensidade (imaginem cantar o tema e os vossos pulmões espremerem-se com um balão que perde ar).

E depois há vários elementos que compõem o quadro de uma forma genial, mas absolutamente discreta, e que se não estivessem lá, seriam notados pela sua ausência.

Se o fraseado que parece ser tocado por um sintetizador (mas que vi numa outra versão ao vivo ser tocado pelo violoncelo que está também nesta actuação em palco e não identifico em mais nenhum espaço da música) se destaca muito, existe um toque  delicioso de uma coro de voz que parece passar ao lado dos nossos ouvidos, mas que torna a frase “Walk away from me lover” ainda mais cristalina.


É um tema simples, mas pela sua estrutura, pela forma como nasce de um movimento constante, como se torna mais intenso no refrão, para voltar ao movimento constante e do último refrão se lançar à estratofera, podemos dizer que o tema, depois tudo o que se ouve, termina num grande [substituir clímax pela palavra que mais lhe agradar].

sexta-feira, setembro 09, 2011

Vintage Trouble - Blues Hand Me Down - Jools Holland Later


Eles são "Vintage" e são um "Trouble" (problema), porque é difícil largá-los.
Teatrais, rockeiros e muito, muito animados, também conhecidos por VT, os Vintage Trouble são mais uma banda nascida a partir do revivalismo que o rock atravessa.
Imaginem um James Brown moderno, menos funk, com uma enorme queda para o rock e uma natural tendência para a diversão - são assim os Vintage Trouble.
Secção rítmica "gingona", guitarra "pintas" (bem rock) e um vocalista que parece ligado à corrente. E que contagia quem os ouve, porque é difícil não se deixar levar pela atitude positiva do grupo que tem uma ainda curta carreira (a sua fundação data de 2010) e que conta apenas um álbum original editado (que pretendo ouvir).
Vale a pena procurar mais música da banda e vale a pena ouvir bem alto, em doses diárias, antes e depois das refeições.


terça-feira, setembro 06, 2011

Adele - "Rolling in The Deep" - Later with Jools Holland


“We could have had it all” canta Adele a plenos pulmões, quem sabe palavras dedicadas a outra cantora que soube gerir menos bem a exposição mediática que esta tendência para as cantoras de pop com laivos jazz teve.



A canção não é de agora, por isso não estará relacionado, mas é a minha forma de fazer a ponte e ir a bem antes disso – Diana Krall, Norah Jones (mais pop que a pianista/cantora loira), Joss Stone... bonitas, discretas, boas compositoras e intérpretes, casos de sucesso numa fórmula de pop misturada com traços do jazz cantado por vozes femininas, como Billie Holliday ou Nathalie Cole.

Associado a este sucesso, surge Amy Winehouse, mas a um nível diferente. As editoras procuram sempre réplicas de sucesso comercial e Amy fez parte de um natural processo de oferta e procura que rege os mercados, estejamos a falar de música ou latas de atum (e que bom é comparar arte a latas de atum).

Mas Adele é tudo menos peixe enlatado. Adele é pescado fresco e a sua frescura provém da sua voz, que canta a plenos pulmões um refrão repetido à exaustão (como qualquer boa canção pop...), mas que nos faz querer gritar também e nos põe a pensar em tudo o que nos envolvemos e não cumprimos, tudo o que ficou para trás, bem ou mal terminado.

É um tema simples, mas que vive muito de uma dinâmica muito marcada pelo “riff” de guitarra inicial e que vai acompanhando o tema, mas ganha a dimensão que é fácil reconhecer com a voz potente de Adele, possívelmente a voz que Deus escolheria para comunicar boas ou más novas à humanidade num belo domingo de manhã, antes da missa.

É fácil gostar de Adele, é fácil gostar do tema. Difícil é acompanhar a voz da inglesa nos refrões todos do início ao final da música – acreditem, já tentei.

The Strokes - "Heart In A Cage" - Live Jools Holland


Este é um dos meus temas preferidos desta banda e um dos meus temas preferidos de sempre.

Esta música faz-me querer mexer e cantar todos os instrumentos, bater as mãos como se o baterista fosse eu, faz-me querer cantar as palavras que sem dizerem muita coisa dizem(-me) muito, faz-me querer cantarolar as guitarras e dança-las e, muito honestamente, o baixo faz-me cócegas no estômago.

É verdade que dizem que o último álbum da banda teve parto difícil, mas estes tipos já nos deram muito com que nos entreter e há músicas que andarão nos leitores de mp3 de muito boa gente por muito, muito tempo.
E justifica-se.

Sobretudo porque os músicos da banda parecem levar-se muito a sério na sua postura de não se quererem levar muito a sério...o conceito é ambíguo, mas a espaços faz todo o sentido. Ou não se tivesse já passado uma década desde que os rapazes colocaram a questão “Is this it?”, onde outros teriam afirmado “This is it”, falhando nesta forma descontraída de rockar sem rockar, fazer pop que não é pop e sendo um ícone da música, sem serem os novos U2 ou sonharem encher Wembley.
The Strokes – os esquizofrénicos mais simpáticos de sempre.

segunda-feira, setembro 05, 2011

White Lies - "Unfinished Business" - live on Jools Holland


Não que alguma vez tenha pensado numa cor a atribuir às mentiras, mas branco nunca seria a minha opção - estes são os White Lies, banda cujo nome conheço apenas de referências em publicações nacionais e nas rádios portuguesas.

No entanto, em termos de sonoridade não fazia (e continuo a não fazer, na verdade) ideia de qual a sua direcção musical.



Ouvindo este tema e a sua interpretação,  estamos perante aquilo a que amiúde se identifica como o rock anos 2000, muito inclinado para o indie rock, cuja designação se prendia inicialmente com a sua “ind(i)e(pendência)”, que tenha estado talvez relacionado com a vertente mais alternativa, mas que nos dias de hoje não significa independência nem sonoridade alternativa – antes com uma estética muito própria, que consegue conjugar vários aspectos diferentes numa só banda, um caldeirão de influências que vão do revivalismo à exploração das novas orientações artísticas. Confusos? Imaginem artistas influenciados por todas as últimas bandas icónicas dos últimos 30 a 40 anos e dêem-lhes uma estética cool de baixa lisboeta = indie rock anos 2000.

O comentário pode soar vagamente preconceituoso, mas na verdade parece-me que esta vertente artística veio baralhar o jogo e os jogadores de uma forma muito positiva, trazendo as sonoridades alternativas para junto da pop, o rock para junto da folk, a electrónica para junto dos instrumentos acústicos e criou-se uma panóplia de possibilidades e novas oportunidades de todos sermos quem quisermos neste mundo louco. 

Nunca a expressão artística foi tão livre e rica, mesmo que se refira os loucos anos 60, o rock sinfónico, o psicadelismo rock ou David Bowie perdido em Berlim.

Não necessariamente por vivermos na era da comunicação ou do livre acesso à informação e todas as facilidades que conhecemos, mas porque nunca houve tanta variedade de estilos e cruzamentos nas mais felizes ou infelizes somas e resultados...mas e se os White Lies e este tema são bons? Se gosto? Gosto do baixo seco e da bateria anos 80 (mas desligada da corrente), da voz que faz ecoar palavras de ordem saídas de uma britpop avariada (The Cure?), o sintetizador evangelizante e uma guitarra indie que remata este som, que não fazendo dele canção da minha vida, me acrescenta qualquer coisa que não tinha antes de o pôr a tocar.

"Later with Jools Holland"


Muito recentemente dei de caras com alguns vídeos de um programa televisivo – “Later with Jools Holland”.

Confesso que ignorava por completo a existência do programa em questão e tenho-o referido muitas vezes em conversa e lá me vão dizendo que já conheciam e que foi exibido entre nós há uns anos na RTP2.
Na verdade ainda não consegui desenvolver muito interesse pelo programa propriamente dito, mas as actuações que ocupam lugar no mesmo  têm-me deixado entusiasmadíssimo. E mais acrescento que ver bandas como Muse, Metallica, Björk, Sonic Youth ou Radiohead juntos no mesmo programa, palco ao lado de palco, me deixa completamente excitado.

Assim, acabei a recolher, com o já habitual espírito coleccionista, um sem número de participações de artistas, uns mais interessantes que outros, alguns que já conhecia, muitas novidades e muitos artistas que andavam já entre “nós” [tugas] sem que me apercebesse dos mesmos.
Agora, pretendo dedicar  alguns posts às mesmas actuações, escolhidas essencialmente com base no meu gosto pessoal, mas também como potenciador de novos interesses nos leitores, novas direcções, mais alternativas no sempre fantástico mundo da arte musical.

“New moon rising”, Wolfmother



O primeiro destaque vai para esta interpretação dos Wolfmother de um tema original dos próprios, banda cujo nome já conheço há algum tempo, mas que confesso não ter ainda descoberto. Para além de boas críticas nas publicações nacionais do costume, alguns comentários de pessoas próximas ou menos próximas que apontavam sempre para a sua onda revivalista, o recuperar de um rock “setentista” que parecia já não ter volta.

Olhando para este vídeo e esta interpretação, vemos uma banda que nos presenteia com um rock sujo e musculado, sem pruridos. E isto tudo em 2009, primeira década dos rock anos 2000, que à partida deve/deverá mais ao indie rock do que as bandas descendentes dos Zepellin em modo “Dave Grohl na bateria” (e sim, eu sei que aquele não é o ex-baterista dos Nirvana, actualmente conhecido como “o tipo mais porreiro do rock”).

Quando se aponta os The Strokes como salvadores do rock e das guitarras rock (sobretudo isso), vemos bandas como esta por o volume no máximo e sacar riffs como se o grunge nunca tivesse saído de Seattle.

É caso para dizer a todos os rockeiros que por aí andam, “I see the new moon rising”.

segunda-feira, agosto 15, 2011

A sombra

Tocava o violoncelo durante a noite e dormia de dia. Era esta a forma que ele tinha encontrado para viver consigo mesmo, de forma tranquila, ou escondida.

Não seria necessariamente uma fuga, mas o vazio no espaço/tempo que ele achara e onde sentia encaixar.

Desenhava os sons que sonhava de dia, no seu estado de alienação, para à noite os tocar como figuras personificadas em temperaturas amenas de um instrumento que era o mais próximo da sua voz e que lhe permitia cantar sem cantar, falar sem se ouvir.

Salomão, hesitante, elevava o arco e suspirava, gemia, falava, cantava, gritava as sensações que não transpunha para a realidade e projectava na pauta, desenhava na tela branca o que tinha deixado há muito de dizer, mas nunca de sentir – o seu ser, que negligenciava para não encarar a verdade, a de que há muito cessara de existir.

Aprisionado em si mesmo, transformado torre de marfim, nenhuma janela para tornar os seus apelos audíveis, Salomão, o homem transformado instrumento de cordas, limitava-se a deixar ecoar no interior da torre os seus pensamentos, transformados sombras vagueantes que subiam e desciam as paredes de tão alta construção.

Lá fora  a vida continuava e o homem arco, atrevia-se a descer à cave e a ouvir o som dos pés dos que passavam, intrigados com a torre tão hermeticamente comprimida e revestida de simplicidade, harmonia.

Do seu interior não se ouviam gemidos, ou sons aflitivos. Lá no alto não se viam nuvens, nevoeiros ou feitiços melancólicos. E o seu interior não era rico em mistério, porque na verdade a torre rodeara-se de um cenário calmo e tranquilo, envolto em relva verde e fofa que muitos procuravam para encontrar paz.

Mas Salomão sabia que à medida que o tempo passava o arco passou a ser o seu braço e o seu tronco desenvolveu enormes fios que se transformaram em cordas. Até o seu coração deixou de bater, pois cada nota fazia suster a respiração, para libertar o fôlego de mais e mais ideias que se perdiam, enquanto sobras, torre acima.

A sua consciência perdeu a compreensão do que lhe acontecera e a sua vontade desaparecera e apenas seguia a batuta que gesticulava bem alto, e a partitura indicava a direcção. Os sons, esses nunca escapavam ao interior da torre que escondia cada vez mais, nos seus cantos e recantos, a humidade da cave fria e fechada e sombria.

Rapidamente, anos e anos depois, vertia água e o verde que rodeava a torre sufocava Salomão no seu interior e a sua respiração cada vez sufocava mais.

Perdido, libertava os sons do seu corpo, a sua forma de gritar bem alto, mas sem nunca chorar ou lamentar. Salomão procurava ouvir-se, mas só sentia a vibração das cordas que o amarravam e libertavam, as cordas que o prendiam e soltavam os sons que o arco faziam ecoar. As cordas que ironicamente apertavam a sua garganta, mas o permitiam comunicar.

Um dia, um dos caminhantes que visitavam o exterior verdejante da torre, uma mulher, observara com maior atenção e vira a torre mudar a sua forma. Um rosto emergia da mesma. Curiosa pelo insólito, todos os dias a mulher visitava a torre e verificava a mudança que operava de dia para dia, cada vez mais parecido ao rosto de um homem cujo sorriso se ia transformando num semblante vazio.

Foi quando o rosto deu lugar a uma entrada na torre, que se atreveu a entrar onde pensou não haver interior, como se de uma rocha maciça se tratasse.

Seco e vazio, assim sentiu ser o espaço.

No chão, um arco de violoncelo. Ao canto, uma cadeira.

Como se de um recém nascido se tratasse, a mulher caminhante juntou as sombras que se haviam espalhado durante anos pela torre e aconchegou-as no seu colo, moldou-as, e com a sua voz a ressoar do seu peito, vibração tranquila, sentada na cadeira, ensaiou movimentos com o arco no vazio como se possuísse ao seu colo uma grande bola de pensamentos que iria libertar, agora que o interior da torre já conhecia a luz do dia.

Conta a lenda que a mulher caminhante tocou durante vários dias um violoncelo imaginário, sem nunca parar por sede, fome ou fadiga.

Ela tocava, embalava, o seu corpo vibrava, o seu ventre retomou o som que ecoava e o violoncelo desapareceu, a mulher adormeceu, o seu corpo desapareceu, a sua sombra desvaneceu...

quinta-feira, agosto 04, 2011

Isto é um sonho:

(Consumir juntamente com o texto em doses moderadas. Em caso de persistência dos sintomas, consulte a sua carta astral)

Saí à rua e estava um lindo dia de céu limpo, sol, e chovia.
Inspirei o cheiro da terra húmida e seca, como só no mundo inverso se pode sentir.
As pessoas gritavam "ai como te amo, minha besta anormal!" e tropeçavam umas nas outras ora por brincadeira, ora por desleixo...

Meti-me no carro e, com as mãos de fora, conseguia tocar os rostos das pessoas que me diziam "vai ser feliz. Compra uma vila velha em Espanha e faz um concurso com detergentes".
Ainda hoje não os percebo, mas sorria. Todo eu sorria e dizia "obrigado amiguinhos, por esta linda canção" e logo atacava o refrão: "Olé, camaradas! Aqui vai fantasia às carradas!", enquanto a guitarra espanhola debitava o flamengo de origem "pópop", que todos dançavam loucamente.

E todos eram felizes, nesta lugar encantado chamado "vida", que muitos olhavam de lado, mas agora abraçavam amigavelmente, como quem come gelados às colheres numa tarde de verão.

Fumei um cigarro de penalti, saí do carro e chamei uma rapariga para dançar. Bailámos. Conseguia sentir o suor a escorrer o seu corpo e a dizer-me "desejo-te", como quando o carro de corrida acelera antes de arrancar.

E a multidão gritava. Gritava em festa, mas a plenos pulmões como quando alguém morre. Gritavam de desespero, mas um desespero alegre e inconsequente. O som cada vez tocava mais e maIS ALTO E MAIS ALTO. O chão tremia de tanta agitação e não havia quem observasse o vazio - em vila velha não há vazio, não há lugares sozinhos, nem gente escondida. Em Vila Velha todos os becos têm saída e as ruas de sentido único servem para ir e voltar.

As suas casas são de cores garridas e divertidas e o alcatrão das estradas é verde, repleto de sóis e flores pintados por crianças. Por todos! Porque em Vila Velha não adultos, nem velhos, nem gente triste. E tudo é de todos e ninguém quer mais que o tudo que todos têm.

Quem espreita para dentro das janelas das casas pode ver que todos dormem a sorrir e vento sopra os que têm calor e aquece os que têm frio.

E diz a lenda que Vila Velha nasceu no dia em que um homem expulsou um grupo de malfeitores chamados tristeza, amargura, egoísmo e capitalismo.

Os habitantes começaram a pensar o que podia cada um fazer para melhorar a vida de todos em vez de pensarem o que todos podiam fazer para melhorar a vida de cada um. Unificaram os conceitos de mal e bem, criando para tal o conceito GARRAFAL - que explicava às crianças que tudo são características e não existem nem defeitos nem virtudes e tudo é uma questão de interpretação...acabaram nesse momento com a classe dos advogados e cada um era livre de se defender, explicar-se, mesmo que para isso levasse 100 dias seguidos (em Vila Velha todos os dias são úteis).

Em Vila Velha as equipas de futebol eram como quando éramos crianças - escolhiam-se as equipas no momento, não havia árbitros e no fim todos íamos lanchar.

Em Vila Velha, todos são desenhos animados e cantam por tudo e por nada.

E,por fim, em Vila Velha todos os dias terminavam como naquela divertida história de fantasia, em que todos se sentavam à mesa para um grande banquete, enquanto se revia as aventuras do dia...

terça-feira, agosto 02, 2011

“Não deixes os dias passar”

  (recomenda-se a audição deste tema para acompanhar a leitura)

Procuro o grito ao fundo do túnel – ouvi dizer que toda a gente anda à procura do brilho ou da luz, mas aparentemente ninguém ouve esse flash, feito esperança.

Visão exterior da crise, ou das crises, económicas, psicóticas. Todos fazemos parágrafos e mudamos de linha, talvez para fugir dos comboios que percorrem os túneis onde procuramos sentidos que nos encaminhem para lugares onde o ar é respirável.

Nem sempre se tratam de dramas.

Às vezes existe apenas a necessidade de sítios e coisas melhores.

Façamos da ambição a antítese da restrição, sinal de pequenez e conformismo.
Vamos desdramatizar? Cá vai: ambicionar o melhor, apenas colocando um sorriso no rosto para mostrar ao mundo a nossa disponibilidade. O exercício pode parecer exigente, mas ainda há pouco parecia que a ambição era um sentimento desmedido e afinal tudo começa com um sorriso.

Talvez a fórmula seja não deixar os dias passar. O nossos pés não andam no futuro e no passado ficam apenas as pegadas, pelo que vale a pena olhar para o rosto do banco ao lado do nosso, no metro, sem medo, só para ver quem lá está.

Reconheço as dificuldades de sairmos das nossas próprias fronteiras, mas aqueles que o fizeram atreveram-se/arriscaram ser felizes.

Ninguém quer descer da sua nuvem - sonhos e fantasias, existências projectadas em ecrãs plasma, superfícies que sugam o plasma que nos corre e escorre, para dar vida e local, a um plasma que colocámos ao centro da sala.

Rajadas de pensamentos projectadas por bocas que fazem opiniões e nos dizem que existem correntes de pensamento, que existem formas certas ou erradas de pensar.

O visor portátil passa um vídeo e discute-se qual tem melhor imagem e quantidade de vídeos, mas ninguém processa o que é dito ou refaz realidades com princípios e factos, pequenos apontamentos que cada vez nascem em mais sítios.

Por último: ainda há esperança para a tribo, se  de entre as coisas novas não se perder o exercício mais antigo que nos levou até hoje: pensar - sem nos trazer, pois o destino traz e o acaso leva-nos.

quinta-feira, julho 21, 2011

"Spider-Man - The Dragon's challenge"

Existe hoje em dia uma grande oferta de adaptações de BD e Comics ao cinema. Existe inclusivamente a ideia de que é uma área só agora e recentemente explorada.

Mas na verdade, há muitos, muitos anos que se tenta de forma melhor ou pior, mais ou menos conseguida, transpor esse mundo de fantasia para o grande e pequeno ecrã.
Capa VHS '81

Nos finais do anos '70 surgiu este "Spider-Man - The Dragon's Challenge", que é no fundo a pós-edição e transformação em longa-metragem de dois episódios da série de TV que datava dessa mesma altura, "The Amazing Spider-Man". A série era protagonizada por Nicholas Hammond, que é ainda hoje considerado por alguns um dos melhores Homem-Aranha/Peter Parker de sempre, havendo inclusivamente alguma especulação sobre se terá sido inspiração para o Peter Parker da série de animação que surgiu nos anos 90 sobre o mesmo super-herói.

Na versão original, esta longa-metragem estava, então, dividida em dois episódios chamados "The Chinese Web", parte um e dois, de 1978, mas foi posteriormente transformada num tele-filme, depois da série ter terminado em 1979.

Ao contrário do que pensei, a série não terminou devido a baixas audiências, mas porque era muito dispendiosa e talvez assim também se explique os poucos episódios e a duração dos mesmos (rondavam sempre os 60 minutos).

Relativamente ao interesse que pode existir em ver um filme do género de 1978, prende-se sobretudo com a curiosidade e com o interesse pelo género.


O protagonista desempenha efectivamente um bom Peter Parker, atribuído à história um lado de investigação policial, muito presente nas versões originais das aventuras do Homem-Aranha e mesmo em termos de fisionomia, é credível.

Existe um grande esforço para vermos o super-herói em acção, não faltando as escaladas de arranha-céus (que embora ingénuas, são bem mais interessantes do que alguns efeitos do género noutros filmes semelhantes). As cenas de luta variam entre o bom e o constrangedor, e a solução encontrada para as suas "poderosas" teias é pobre, parecendo mais uma rede de caça e parecendo as suas "vítimas" pequenos animais confusos, depois de enredados nas mesmas.

O argumento mostra-nos momentos com um ritmo bastante aceitável, mas também revela diálogos muito infantis.

No final, fica satisfeita a curiosidade, pretendo ver a série completa, se conseguir, já que nenhum deste material está disponível em DVD - foram editados em VHS e é possível encontrar algumas coisas na net.

(fotografia "emprestada" do espaço imdb)

Andarilhos, Fnac Chiado, 17 de Julho



Andarilhos

Inês Igrejas
A visita à Fnac do Chiado devia-se à necessidade de um sítio simpático para conversar um pouco, mas a esperança de encontrar música era alguma, para não dizer muita.

 Felizmente, quando o relógio marcava cerca das 16h30, ficámos a saber que daí a pouco os Andarilhos subiriam ao palco para nos alegrar com a sua interpretação da música de cariz tradicional portuguesa.

Nascidos em Baião, como fizeram questão de frisar várias vezes, o grupo desenvolve um som muito interessante, com toda a legitimidade da cultura popular, mas com alguns traços mais modernos.

Grande entrega por parte dos músicos que nos mostravam fazer o que fazem por gosto e era impossível não ser contagiado com a onda positiva que vinha do palco. Os sorrisos e a boa disposição faziam-me viajar até cenários do interior do nosso país ou até a culturas no norte da grã-bretanha, talvez por conta das gaitas de foles.

Pedro Monteiro/ Rui Santos
Destaque para a viola-baixo que marca e muito a sonoridade do grupo, que (pelo menos ao vivo) acresce uma grande força e balanço ao som do conjunto (e que em muitos momentos se colava por completo à percussão).

No final, a vontade de os ver novamente, mas noutro tipo de ambiente.

(fotos "emprestadas" pelo Myspace da banda)

"The Beaver" - Jodie Foster - 2011

"Esta é a história de Walter Black, um indivíduo irremediavelmente deprimido" - é assim que nos é apresentada a história de um homem que encontra uma insólita maneira de comunicar com o mundo - através de um castor-fantoche.

Este filme conta-nos de forma curiosamente divertida (não confundir divertida com "apalhaçada") a história de um homem cuja depressão e estado de alheamento afectam tudo à sua volta, desde o seu filho mais velho, que vê em si um caso perdido, ao seu outro filho, que não identifica a figura paternal, à sua esposa, que sente que perdeu o homem que amava.

No entanto, Walter é salvo pela parte de si que ainda quer viver e que quer criar laços com aqueles que, no fundo, ama. Essa parte é o castor, que assume o comando da sua vida, alcançando a harmonia familiar, bem como o sucesso profissional.

Mas o castor vem também mostrar a Walter que só o seu todo pode tomar o controlo da sua vida.

Não se trata de um filme memorável, mas é um excelente exercício sobre as dificuldades de comunicação que as pessoas encontram no seu dia-a-dia, nomeadamente junto das pessoas que as rodeiam no ambiente familiar. É também um exercício sobre o alheamento que surge na vida das pessoas e que cria distâncias difíceis de recuperar. Mas também trata da capacidade que todos temos dentro de nós de viver, porque esse é o nosso principal instinto.

Uma história bem contada que tem alguns momentos mais divertidos (apanhei uma sessão da meia-noite, estávamos 5 pessoas a assistir ao filme e apenas dois rimos de algumas cenas...) e que tem em Mel Gibson uma boa interpretação do seu personagem, conseguindo fazer coexistir as suas duas "vozes" de forma bastante credível.

O ponto mais forte, é a ausência de "pós-mágicos" para dar vida ao castor, sem lembrar nenhum clássico tipo Walt Disney, com Michael J. Fox a dar voz à marioneta.

No mínimo, interessante.


(fotografia - Google imagens/ trailer - Youtube)

"The X-Men - First Class"

Prequela da saga The X-Men
Sou, no mínimo, um grande curioso de adaptações de BD ao cinema, pelo que todos estes lançamentos me deixam curioso.

Sinto um enorme fascínio por este universo e fico cheio de expectativa e a avaliação prende-se sempre um pouco com o seguinte: o desenrolar da história, os personagens, a simulação do ambiente comics soa a ridículo ou é credível?

A questão é que a máquina de Hollywood está, a esta altura, mais que afinada no que toca a colocar personagens de BD no grande ecrã, sobretudo pelos meios digitais, que nos fazem acreditar em todo aquele universo.

No caso específico de "Primeira classe", e porque defendo que as primeiras adaptações foram muito bem conseguidas (inclusivamente pela boa escolha de actores - Patrick Stewart é o Prof. Xavier e também mais ninguém podia ser Wolvorine senão Hugh Jackman) estava com algum receio do que poderia ter sido feito nesta última versão. Porque sentia uma grande mudança na interpretação dos personagens, pelas imagens que tinha visto, estava um pouco apreensivo. Mesmo que as diferenças dos traços dos mesmos visassem contar a sua origem.

Mas fiquei surpreendido com o filme.

Talvez pela qualidade dos actores, ou mesmo porque o argumento é conseguido e bem explorado, depois de me sentar na cadeira do cinema, nunca mais me lembrei de fazer comparações entre "este" Prof. Xavier e o "outro".

Os personagens são muito convincentes e as dinâmicas são muito boas. E, louve-se, não há pressa em mostrar efeitos visuais de encher a vista.

Sobre o enquadramento histórico, trata-se de mais um aspecto positivo, conseguindo os argumentistas criar uma ligação com o "mundo real" bastante convicente e lembrando a Era Dourada dos Comic Books, que estavam bem mais relacionadas com a actualidade política do que nos anos seguintes, em que para Super-Heróis, surgiram Super-Vilões e aventuras inter-galácticas.

Depois existe a questão subjacente à narrativa X-Men - a segregação racial e o conflito que advém da mesma.

Apoiados em teorias políticas e sociais de então, Charles Xavier e Magneto fundamentam as suas visões da mesma situação: a diferença genética e os traços de raças diferentes. No mundo Marvel essa diferença é acentuada, mas corresponde aos conflitos raciais que se verificaram um pouco por todo o mundo, ao logo de décadas, mas sobretudo no mundo ocidental, com as gerações seguintes dos povos negros que a raça ariana escravizou e retirou da sua terra natal, África.

Assim, enquanto Charles Xavier defende a co-existência das raças, Magneto acredita que a sua raça, a mutante, é o passo seguinte da evolução genética e deve, assim, prevalecer em detrimento da humana.

Posições tão extremas geram um conflito dentro do conflito.

Por fim, e também para comentar o desempenho de Kevin Bacon como Sebastian Shaw, existe em todo o filme um ambiente James Blond, alimentado em parte pelo estilo de assassino frio e cheio de pinta de Fassbender, numa interpretação bastante criativa de Magneto, mas também pelo vilão desempenhado por Bacon - um bandido cercado de excentricidades, com um plano maligno mirabolante e com direito apresentação do mesmo (bem ao estilo vilão Bond).

O saldo final é muito positivo, embora talvez se tenha assim fechado a porta aos realizadores que pretendam desenvolver mais histórias dos X-Men, restando a possibilidade de pegar em alguns vilões fortes que existem no universo X-Men, como Sinistro, ou Apocalipse.

quarta-feira, julho 06, 2011

"A águia da Nona Legião"

"A águia da Nona Legião"
Visita aos cinemas da UCI na perspectiva de ver uma das últimas adaptações de BD ao cinema, mas a acabar por ver este título que, embora sem grande expectativa, parecia prometer entretenimento.

E a verdade é que, de espada em punho e sandálias calçadas, “A Águia da Nona Legião” é entretenimento vindo do Século II e conta uma interessante história de aventura.

Adaptado do romance clássico de Rosemary Sutcliff, o filme é realizado por Kevin Macdonald e, embora retrate o período do império romano, não deixa de apontar para outro império: o norte-americano.

Existe uma boa relação dos principais personagens, (Marcus Flavius Aquila e Esca) e é um bom retrato de época. Existem bonitos cenários e boas bonitas fotografias e não consegui deixar de ver em Channing Tatum um G.I. Joe de sandálias. A águia, que se perdeu e que representa as conquistas romanas, equipara-se à bandeira dos EUA.

De resto, para lá do estilo filme de época/género: aventura, destaque para o lado moralista da história. Conceitos como a amizade, a lealdade, a honra e o bem-comum (em detrimento dos interesses pessoais) são muito explorados numa sequência de acontecimentos que unem estes dois indivíduos.

Um filme agradável, mas que facilmente se perderá na memória de tantos outros.

terça-feira, julho 05, 2011

"Suck it and see", Arctic Monkeys

Ainda sem oportunidade de ouvir o álbum na íntegra, fica este apontamento.

Depois de a sonoridade dos "nossos" Arctic Monkeys ter endurecido no último álbum, a banda inglesa apaixona-se cada vez mais pelo stoner rock. De blusões de cabedal em cima (como têm sido vistos nalguns programas a promover o mais recente trabalho), o grupo parece ter-se transformado depois da sua estadia no deserto, nas "mãos" de Josh Homme (Queens Of The Stone Age).

À frescura juvenil (mesmo que com alguma acidez à mistura) que manifestaram nos temas que integraram os dois primeiros álbuns, surge agora uma certa aridez apenas reconhecível no vento seco do deserto e no som cheio de "gain" das suas guitarras.

The Pretty Reckless

Taylor Momsen era para mim, antes de mais, a rapariguinha da série de TV "Gossip Girl" que canta umas coisas.

E assim continuaria a ser para mim se eu nunca tivesse a curiosidade de agarrar (como faço tantas vezes) nas minhas revistas de música, sentar-me em frente ao youtube e reciclar os meus conhecimentos musicais.

The Pretty Reckless é a aventura musical da rapariga modelo/actriz/cantora/compositora e devo dizer que fiquei surpreendido pela positiva e espero que me recorde disto mesmo numa próxima vez que crie preconceitos sobre o trabalho dos outros.

Embora ainda tenha muito que conhecer sobre este projecto, consegui já captar a estética do projecto que se move numa pop visceral, que "rouba" imagens a outras tendências.

Courtney Love, Lady Gaga, todo o movimento Emo Core que, por exemplo, protagonizam (mais do que Preconizam) os Paramore, têm traços comuns que conseguimos reconhecer na rocker Taylor Momsen e em toda a sonoridade dos Pretty Reckless que nos oferecem peso e melodia em boas doses e temas que são radio friendly e que ficam no ouvido.

E o que mais me deixa satisfeito, é que de facto a rapariga canta e não é só pose e trabalho de estúdio. Ela é, de facto, uma boa cantora rock.

Em baixo, vídeos para conhecer um pouco melhor. Ao lado, uma foto da jovem norte-americana que foge muito ao estereótipo de menina bonita das revistas da moda.




domingo, junho 26, 2011

"Let them Talk", Hugh Laurie

Já perdi conta às horas que já devotei a ver e ouvir vídeos musicais com participação de Hugh Laurie, o famoso Dr. House (que me recordo de ver como um dos secundários de Rowan Atkinson em Black Adder e afins...).

Depois das aproximações à música na série de televisão exibida entre nós na TVi, e depois de surgir a Band from TV (com vários actores de outras séries a tocar em nome de causas humanitárias), sempre ansiei para que Hugh Laurie desse o passo seguinte e gravasse um álbum.

No entanto, e embora ainda não tenha ouvido o álbum na íntegra, tenho que ser fiel a mim mesmo e dizer que estava à espera de ser surpreendido por algo refrescante. Pelo pouco que já fui ouvindo, confesso que não levo grande entusiasmo para a audição do título completo, "Let them talk".

Mas, ainda assim, é preciso dizer que se trata de uma grande figura artística, um grande actor, um escritor interessante e que tem momentos musicais brilhantes na televisão britânica, sobretudo. Momentos de humor, essencialmente, mas de grande sensibilidade musical.

Em baixo, um cheirinho do álbum novo e algo mais antigo...





Morreu Peter Falk - Inspector Colombo

Peter Falk em "Colombo", série de investigação policial
Pois é, este mês tem sido pródigo em perdas e acidentes e tragédias.

Desta feita foi Peter Falk, o famoso inspector Colombo que faleceu, aos 83 anos. Não são conhecidas as causas da morte, mas aos 83 tudo pode acontecer.

Verifiquei por acaso, e como infelizmente muitas vezes acontece (após a morte de alguém), que o sr. Peter Falk fez muito mais que interpretar o engraçado e desengonçado inspector. Falk foi também um dos actores preferido de John Cassavetes, com quem rodou seis filmes.

Participou na clássica série de ficção científica "Quinta Dimensão", em "Asas do Desejo", de Wim Wenders. E que a sua carreira surge aos 30 anos de idade, um atraso que se deveu ao que viria a ser uma das suas imagens de marca: o olho de vidro.

Depois de ver a sua diversificada, variada e algo numerosa actividade filmográfica fiquei com muita curiosidade em conhecer o seu trabalho.

Assim: desculpa caro Peter, por ter que ver a notícia do teu óbito no jornal para me lembrar e ter vontade de conhecer o teu trabalho de forma mais geral e perceber o actor que foste. Agradeço também as horas dos meus dias em que chegava a casa (e já na TV memória, é verdade...) me entretinha a acompanhar as tuas investigações.

Obrigado.