quinta-feira, abril 29, 2010

"Coca-cola Killer", Maestro Vitorino D'Almeida

Um talento para mim desconhecido do Maestro Vitorino de Almeida - a escrita.

Completamente surreal, veste esta forma de humor, que é a que mais aprecio e tanto mais faz sentido por ser a mão do Maestro a desenhar tão rebuscadas e inusitadas situações - porque é fácil associar este universo meio doido à alguma loucura que todos de uma maneira geral entendemos fazer parte de Vitorino.

O enredo gira em torno de um sujeito completamente movido pelos seus interesses pessoais, num período que vai do momento que antecede a revolução dos cravos e o pós-25 de Abril, sem deixar de misturar o personagem na revolta militar e popular, desenvolvendo, no entanto, um papel pouco claro.

Fazendo uma crítica de costumes, Vitorino D'Almeida levou um pouco mais longe a obra Queirosiana, actualizando-a, escrevendo numa linguagem menos formal e exagerando sempre o tom, transformando o humor mordaz de Eça em algo mais absurdo.

Existem, aliás, duas referências a Eça de Queirós - quando o autor coloca o protagonista a clamar por um Eça em cada esquina e, já no final da história, quase reproduzindo a cena do eléctrico que fecha os "Os Maias"; Carlos da Maia e João da Ega correndo atrás do "inglês", gritando, "ainda o apanhamos, ainda o apanhamos"...

Inusitado, mas repleto de boas descrições e cheio de humor.

0 comentários: