Nesta série de textos sobre actuações no programa Jools
Holand tive já oportunidade de referir algumas bandas/artistas que já conhecia,
melhor ou pior, ou cujo nome tinha já visto referido nalgum lado.
Neste caso, a actuação é de uma artista australiana cujo nome
desconhecia, embora desconfie que já me falaram sobre a mesma numa noite destas,
já aqui há tempos.
Claro que, não conhecendo, é preciso ir saber quem é – e não
é que me andava a escapar uma artista com grande actividade artística? E que por acaso a
cantora já participou em álbuns de um grupo de que gosto bastante, os Zero 7? E
que já fui muito feliz ao som do álbum estreia desse mesmo grupo e que esta
menina canta temas como “Destiny”, um dos melhores desse primeiro trabalho?
No entanto, Sia Furler, nome de baptismo da vocalista, tem também já
algum trabalho editado a solo (três álbuns e alguns singles) e assina aqui um tema
bastante diferente do trabalho que desenvolvia com os Zero 7.
A solo apresenta uma estética mais descontraída e muito mais
próxima de uma pop primaveril, mas que se destaca das demais propostas do género.
Pelo registo, sobretudo.
No caso deste vídeo e deste tema, que se aproxima do universo
infantil, Sia parece mostrar aos adultos como se vive num mundo longe do
cinzentismo do dia-à-dia, alusões ao fluorescente usado na apresentação à parte.
E se a estética é leve e descontraída o tema é uma forma
descontraída de dizer “eu sou assim”, “I’m seeing ghosts in everything”, “I am
no good for you”, “Get away from me lover, away from me lover”. Porque o tema
também nos diz “Can’t you see that I am losing my marbles”, mas que na verdade “It’s
marvellous losing another, losing another”.
Assumidamente bissexual, Sia pode cantar-nos aqui o caminho
para o alívio da existência como penitência, castigo de nascer e caminhar para
morrer. E não me estou a referir à bissexualidade. Antes a qualquer coisa como uma nota dos pais que é entregue à professora a libertar-nos de
mais um dia de aulas. Como se nos quisesse ofuscar com as cores garridas (aqui sim,
alusão ao fluorescente), cegar-nos e fazer-nos ver novamente - destruir para
construir.
Em termos musicais, é preciso acrescentar um dado: Sia Furler é
compositora e tem escrito para algumas das divas da pop, como é o caso de
Beyoncé ou Christina Aguilera. Uma experiente escritora de canções, Sia compôs este “Buttons”, um tema que é marcado por um baixo cheio e bem gordo, coladinho
a uma bateria simples (não confundir com básica; grande trabalho de prato-tarola). E a urgência com que Sia canta o tema não revela um ataque vocal agressivo, mas
revela uma grande intensidade (imaginem cantar o tema e os vossos pulmões
espremerem-se com um balão que perde ar).
E depois há vários elementos que
compõem o quadro de uma forma genial, mas absolutamente discreta, e que se
não estivessem lá, seriam notados pela sua ausência.
Se o fraseado que parece ser tocado por um
sintetizador (mas que vi numa outra versão ao vivo ser tocado pelo violoncelo
que está também nesta actuação em palco e não identifico em mais nenhum espaço
da música) se destaca muito, existe um toque
delicioso de uma coro de voz que parece passar ao lado dos nossos
ouvidos, mas que torna a frase “Walk away from me lover” ainda mais cristalina.
É um tema simples, mas pela sua estrutura, pela forma como
nasce de um movimento constante, como se torna mais intenso no refrão, para
voltar ao movimento constante e do último refrão se lançar à estratofera, podemos
dizer que o tema, depois tudo o que se ouve, termina num grande [substituir
clímax pela palavra que mais lhe agradar].
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