“We could have had it all” canta Adele a plenos pulmões, quem
sabe palavras dedicadas a outra cantora que soube gerir menos bem a exposição
mediática que esta tendência para as cantoras de pop com laivos jazz teve.
A canção não é de agora, por isso não estará relacionado, mas
é a minha forma de fazer a ponte e ir a bem antes disso – Diana Krall, Norah
Jones (mais pop que a pianista/cantora loira), Joss Stone... bonitas,
discretas, boas compositoras e intérpretes, casos de sucesso numa fórmula de
pop misturada com traços do jazz cantado por vozes femininas, como Billie
Holliday ou Nathalie Cole.
Associado a este sucesso, surge Amy Winehouse, mas a um nível
diferente. As editoras procuram sempre réplicas de sucesso comercial e Amy fez
parte de um natural processo de oferta e procura que rege os mercados,
estejamos a falar de música ou latas de atum (e que bom é comparar arte a latas
de atum).
Mas Adele é tudo menos peixe enlatado. Adele é pescado fresco
e a sua frescura provém da sua voz, que canta a plenos pulmões um refrão
repetido à exaustão (como qualquer boa canção pop...), mas que nos faz querer
gritar também e nos põe a pensar em tudo o que nos envolvemos e não cumprimos,
tudo o que ficou para trás, bem ou mal terminado.
É um tema simples, mas que vive muito de uma dinâmica muito
marcada pelo “riff” de guitarra inicial e que vai acompanhando o tema, mas
ganha a dimensão que é fácil reconhecer com a voz potente de Adele,
possívelmente a voz que Deus escolheria para comunicar boas ou más novas à
humanidade num belo domingo de manhã, antes da missa.
É fácil gostar de Adele, é fácil gostar do tema. Difícil é
acompanhar a voz da inglesa nos refrões todos do início ao final da música – acreditem,
já tentei.
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