quinta-feira, outubro 23, 2008

Cicerone

Ontem, quando ia apanhar o Metro, fui abordado por um tipo. Precisava de orientação para chegar ao Saldanha. Levei aqueles segundos que por norma levamos, ao ser abordados por estranhos, a concentrar-me no que ele dizia. Porque se expressava numa língua que não o português e porque todo ele soava a estrangeiro, puxei, da minha memória para a zona do meu cérebro que controla o vocabulário, o inglês que estudei durante muitos anos e tão poucas vezes tenho oportunidade de usar. Acabei por lhe dar "boleia" pelas várias linhas (porque ia fazer o mesmo percurso) e estivemos a trocar impressões pelo caminho. Perdidos numa língua que não era comum a nenhum de nós, encetamos uma conversa sobre culturas e sobre o nosso país.
Confesso que o facto de não usar há muito a língua inglesa, me fez perder a objectividade e muitas questões que podia ter colocado ficaram esquecidas e, portanto, sem resposta.
O sujeito, cujo nome não me lembrei de perguntar, é natural do Irão, residente na Finlândia, e encontra-se de férias em Portugal. Como é que um iraniano vai parar à Finlândia, era outra coisa que devia ter perguntado…
– “So, where´re you from?” –, perguntei, enquanto subíamos as escadas.
– “I´m from Iran” –, respondeu-me, com um sorriso nervoso.
– “Really? You´re quite far from home, aren´t you?” –, atirei.
– “Actually, I´m from Iran, but I live in Finland” – explicou-me.

Enquanto caminhavamos pelos corredores do Metro, fomos conversando sobre o que ele estava a achar do nosso país. Revelou-se muito satisfeito, porque, sendo de um país quente e estando actualmente num país onde faz muito frio, estava contente por puder gozar de temperaturas mais amenas. Por outro lado, aprecia também o espírito mais aberto da nossa gente. Estávamos num espaço público, movimentado, com toda a gente a falar uns com os outros. Aparentemente, na Finlândia, as pessoas são muito mais fechadas, pouco efusivas, pouco dadas – num espaço como aquele onde nos encontrávamos, reinaria o silêncio - lá por terras d´onde ele se encontra a viver.
Por fim, falámos da vaga de crime de que tanto se fala, que eu desvalorizei e até acusei ser alarmismo injustificado, porque Portugal ainda é um país onde se pode andar à vontade na rua. Ele concordou.
Acabei por chegar ao meu destino, apontei-lhe o restante caminho que ele devia percorrer e desejei-lhe uma boa estadia. – “Enjoy!” –.

Foi uma viagem de Metro diferente do habitual.

2 comentários:

D@s Pl3ktrüm-/v\ädch3n disse...

Sure was. Também quero encontrar pessoas interessantes de países longínquos para ter conversas no metro. Vou pôr um anúncio no jornal (metro) =) - precisa-se!

Anónimo disse...

...mas minha amiga, tanta coisa que eu já vivi em sonhos e publiquei neste humilde espaço... e desta vez é realidade. Nunca tinha conhecido ninuguém de um país tão distante. Sobretudo nestas condições. Foi muito curioso. Muito enriquecedor. Obrigado por continuares a ler o meu blog. Faz-me sentir que a minha escrita vale apena, mesmo que digam que a palavra por si só seja suficiente. É bom saber que nos ouvem a escrita. Obrigado.