quinta-feira, agosto 04, 2011

Isto é um sonho:

(Consumir juntamente com o texto em doses moderadas. Em caso de persistência dos sintomas, consulte a sua carta astral)

Saí à rua e estava um lindo dia de céu limpo, sol, e chovia.
Inspirei o cheiro da terra húmida e seca, como só no mundo inverso se pode sentir.
As pessoas gritavam "ai como te amo, minha besta anormal!" e tropeçavam umas nas outras ora por brincadeira, ora por desleixo...

Meti-me no carro e, com as mãos de fora, conseguia tocar os rostos das pessoas que me diziam "vai ser feliz. Compra uma vila velha em Espanha e faz um concurso com detergentes".
Ainda hoje não os percebo, mas sorria. Todo eu sorria e dizia "obrigado amiguinhos, por esta linda canção" e logo atacava o refrão: "Olé, camaradas! Aqui vai fantasia às carradas!", enquanto a guitarra espanhola debitava o flamengo de origem "pópop", que todos dançavam loucamente.

E todos eram felizes, nesta lugar encantado chamado "vida", que muitos olhavam de lado, mas agora abraçavam amigavelmente, como quem come gelados às colheres numa tarde de verão.

Fumei um cigarro de penalti, saí do carro e chamei uma rapariga para dançar. Bailámos. Conseguia sentir o suor a escorrer o seu corpo e a dizer-me "desejo-te", como quando o carro de corrida acelera antes de arrancar.

E a multidão gritava. Gritava em festa, mas a plenos pulmões como quando alguém morre. Gritavam de desespero, mas um desespero alegre e inconsequente. O som cada vez tocava mais e maIS ALTO E MAIS ALTO. O chão tremia de tanta agitação e não havia quem observasse o vazio - em vila velha não há vazio, não há lugares sozinhos, nem gente escondida. Em Vila Velha todos os becos têm saída e as ruas de sentido único servem para ir e voltar.

As suas casas são de cores garridas e divertidas e o alcatrão das estradas é verde, repleto de sóis e flores pintados por crianças. Por todos! Porque em Vila Velha não adultos, nem velhos, nem gente triste. E tudo é de todos e ninguém quer mais que o tudo que todos têm.

Quem espreita para dentro das janelas das casas pode ver que todos dormem a sorrir e vento sopra os que têm calor e aquece os que têm frio.

E diz a lenda que Vila Velha nasceu no dia em que um homem expulsou um grupo de malfeitores chamados tristeza, amargura, egoísmo e capitalismo.

Os habitantes começaram a pensar o que podia cada um fazer para melhorar a vida de todos em vez de pensarem o que todos podiam fazer para melhorar a vida de cada um. Unificaram os conceitos de mal e bem, criando para tal o conceito GARRAFAL - que explicava às crianças que tudo são características e não existem nem defeitos nem virtudes e tudo é uma questão de interpretação...acabaram nesse momento com a classe dos advogados e cada um era livre de se defender, explicar-se, mesmo que para isso levasse 100 dias seguidos (em Vila Velha todos os dias são úteis).

Em Vila Velha as equipas de futebol eram como quando éramos crianças - escolhiam-se as equipas no momento, não havia árbitros e no fim todos íamos lanchar.

Em Vila Velha, todos são desenhos animados e cantam por tudo e por nada.

E,por fim, em Vila Velha todos os dias terminavam como naquela divertida história de fantasia, em que todos se sentavam à mesa para um grande banquete, enquanto se revia as aventuras do dia...

2 comentários:

miguel fonseca disse...

deixeme que lhe diga (se foi voce que escreveu este texto) que tem grande talento.

Imaginário disse...

Olá meu caro Miguel Fonseca.

Antes de mais, obrigado pela visita ao blog.

Fui, de facto, eu quem escreveu o texto, bem como todos os que aqui pode ler.

Quanto ao talento, é uma questão de perspectiva :)