sábado, setembro 01, 2007

Crítica de uma crítica

A ignorância não tem tempo ou lugar, ela prolifera. Quando apanho o autocarro, ou quando espero na fila do super-mercado, sou confrontado com a dita (a ignorância). Grave é quando a ignorância se revela nas opiniões técnicas, por vezes pouco apuradas. Não está em causa o gosto de cada um. Antes, a inabilidade para discernir o preto do branco.
Não me quero dizer fã de Slime Fingers, mas sou um seguidor do trabalho da banda de Torres Novas e confesso que considerei hilariante a crítica a que foram sujeitos - no texto referente ao concerto que decorreu na Meia Via, no dia 5 de Maio. Será possível errar tanto?
Vejamos; que a voz revela problemas é bastante óbvio, mas sejamos honestos e lúcidos para perceber que a única falha em termos de vocalizações se prende com uma falta de grandeza, a grandeza que a instrumentalização representa. O frontman dos Slime Fingers não arranha por caminhos indevidos, porque embora revele uma certa inabilidade para cumprir uma boa prestação, revela também uma clara noção de melodia e de encaixe, de perfeição formal – talvez falte a atitude de um frontman, um lead singer, que não alguém que se esconde atrás da guitarra.
Agora, o que eu não entendo é a perspectiva sobre o instrumental. Onde raio está a influência nu metal que é referida? Será que o peso da guitarra hoje é dia é princípio para a conotação com a sonoridade nu metal? Fui à wikipedia tentar perceber melhor o fenómeno do nu metal/nü metal/new metal (em português, metal novo). “Ausência marcada de solos de
guitarra e outros resquícios de virtuosismos típicos do Heavy metal.
Constante variação entre vocal “choroso” (
Korn, Limp Bizkit) ou suspirado (Deftones) e vocal “gritado”, raivoso ou as vezes Melódico (Incubus, Sevendust e Linkin Park).
Alguma influência da
Música electrónica, adquirida do Metal industrial e variações britânicas do Breakbeat, como é o caso do Jungle e do Drum n’ Bass.
Uso de
DJ, principalmente para accionar os samples e para efeitos de "scratch e Turntables".
Uso variado de instrumentos diferentes, tornando cada banda única por seus diferenciais.” ...perdoem-me a ironia, mas estamos claramente perante uma banda com grandes influências nu metal... a começar pela ausência de solos com que os Slime Fingers nos brindam.
Depois não entendo a antítse, a contradição de ideias, o disparate: a banda tem potencial ao nível do instrumental, mas ao mesmo tempo não sabem que rumo tomar? Uma banda sem rumo não tem potencial, tem contas a fazer e ideias a explanar. É do senso comum e do bom senso – é preciso ter rumos definidos quando se compõe metal progressivo, ou há o risco de divagação, contradição, disparate. O mesmo princípio aplica-se aos textos jornalísticos.
Sobre a atitude punk, referida como dispensável, faz parte de uma abordagem que considero inteligente por parte da banda. O Metal progressivo não prima pela interacção com o público ou grandes estados de extase em palco. É preciso saber digerir esta sub-categoria do metal e é preciso gostar muito, ou torna-se aborrecido – é muito técnica. Trata-se de uma nuance estilística, não um problema de qualidade.
Depois de ler a crítica "fiquei-me" a contemplar o remate: “a banda de Torres Novas necessita de bastante trabalho”. Curiosamente, concordo. É preciso é que também quem escreve se dê ao trabalho, não se fique pela crítica fácil.

0 comentários: