domingo, maio 23, 2010

"Trouble", Ray Lamontagne

Nada como estar entre amigos para se descobrir coisas interessantes.

Ficámos rendidos a este tema. É lindo. Lembro-me de dizer que tinha inveja.

Esta versão é muito especial, porque já vi interpretações com banda e esta continua a ser a que mais me cativa, talvez até porque o momento em que a ouvi (e se calhar na altura ninguém se apercebeu) foi muito especial. Para mim. Cantamos o refrão durante o resto da noite e nos dias que se seguiram. E que vão seguindo.

Gosto muito da letra e em baixo, para além do vídeo, coloco-a também - porque mesmo as mentes mais perturbadas encontram no seu caminho quem as salve. Think outside the box.



Trouble...
Trouble, trouble, trouble, trouble
Trouble been doggin' my soul since the day I was born
Worry...
Worry, worry, worry, worry
Worry just will not seem to leave my mind alone
We'll I've been...
saved by a woman
I've been...
saved by a woman
I've been...
saved by a woman
She won't let me go
She won't let me go now
She won't let me go
She won't let me go now

Trouble...
Oh, trouble, trouble, trouble, trouble
Feels like every time I get back on my feet
she come around and knock me down again
Worry...
Oh, worry, worry, worry, worry
Sometimes I swear it feels like this worry is my only friend
We'll I've been saved...
by a woman
I've been saved...
by a woman
I've been saved...
by a woman
She won't let me go
She won't let me go now
She won't let me go
She won't let me go now

Oh..., Ahhhh....
Ohhhh
She good to me now
She gave me love and affection
She good tell me now
She gave me love and affection
I Said I love her
Yes I love her
I said I love her
I said I love...
She good to me now
She's good to me
She's good to me

"I love you Phillip Morris"

Perguntei a alguém que já tinha ido ver este filme se era bom. Disseram-me que era estranho. Estranho é uma história de amor ser censurada por ser entre dois homens.

Embora seja uma comédia não adopta uma postura de chacota sobre assuntos mais sérios, adoptando antes uma visão cómica e humorística como pano de fundo a um romance entre duas PESSOAS.

Um homem comum que se transforma num vigarista e acaba preso. Polícia, homem de negócios, criminoso de colarinho branco, recluso, ele usa do seu engenho para chegar onde quer - à felicidade ao lado de quem gosta.

O filme é baseado numa história verídica, a vida de Steven Jay Russell, que terá de facto usado os esquemas descritos na longa-metragem para fugir da prisão várias vezes.

Acima de tudo, o filme surge numa altura muito pertinente, em que se discute a legalização do casamento homosexual.

Sem ser um grande filme, tem boas interpretações e consegue ter bastantes surpresas - sobretudo para quem não conhece a biografia de Steven Jay Russell, como era o meu caso.

"9"

Realizado por Shane Acker, "9" não é uma história muito original, do ponto de vista do argumento. Além de bater no conceito "Homem vs Máquina", faz-se representar por uma série de clichés típicos no cinema de e para as grandes massas.

Shane Acker chamou a atenção dos críticos cinematográficos com as suas imaginativas curtas-metragens de animação, nomeadamente "The Astouding Talents of Mr. Granade", de 2003 e "The hangnail", de 1999. Foi, no entanto, em "9" que Shane concretizou o seu potencial. Tim Burton viu isso mesmo e assim nasceu "9", a longa-metragem.

A história decorre num futuro não muito longínquo, onde o nosso planeta foi devastado por um conflito entre homens e máquinas. Umas pequenas criaturas que se assemelham a bonecos de serapilheira ganharam vida própria e, agora, tentam resistir às máquinas que tudo fazem para por fim à vida como a conhecemos.

Com uma forte componente visual, a história acaba por ser uma visão interessante destes cenários já vistos noutros filmes e histórias. Embora tenha ouvido o contrário e com sentido depreciativo, parece-me que não se desvirtuou muito a versão original, a da curta metragem.

Os personagens ganham voz (na primeira versão eles não falavam) e a personalidade é mais desenvolvida. E embora meio estereotipados, são credíveis. Os cenários são pormenorizados e conseguem exteriorizar engenhosamente a atmosfera sombria que acompanha constantemente a narrativa.

Não se tratando de uma animação da Pixar/Disney, ou da DreamWorks é bastante menos comercial, até porque não é aconselhável a crianças, visto ter algumas sequências mais violentas.

Em baixo as "curtas" "The Astouding Talents of Mr. Granade", "The hangnail" e "9", o trailer de "9" (a longa-metragem) e, para quem já se perguntou de quem é o tema que se ouve no trailer, a malha completa - dos Coheed and Cambria.









domingo, maio 16, 2010

Morreu Ronnie James Dio

Foi Ronnie James Dio, ex-vocalista dos Black Sabbath, quem celebrizou os dedos em chifre - uma marca que todos os metaleiros conhecem e que, verdade seja dita, nem todos se lembram quem inventou.

Por isso, hoje, há uma espécie de luto instalado nos corações dos fãs dessa forma de música, odiado ridicularizado por tanta gente. Dio morreu.

Mas o mundo do metal tem coisas muito boas. Para além da música (não toda, mas alguma), há nesta vertente um sentimento de união que não se encontra muito por estes dias. E se calhar são os últimos grandes fãs de música, porque um metaleiro não consome só as bandas da moda e são fieis seguidores das bandas de que gostam. Aliás, criticam muito o chamado "metaleiros de sofá", que no fundo é uma crítica a todos aqueles que se limitam a ouvir o que vão buscar à net e que não se deslocam aos concertos. Porque eles querem de facto apoiar as bandas que gostam ouvir.

Daí que de facto se pode falar em luto pela morte do actual vocalista dos Heaven & Hell, banda recentemente formada, que juntava membros dos Black Sabbath (com excepção de Ozzie Osbourne, que Dio viria a substituir no final dos anos 70). Os Heaven & Hell tinham actuação marcada no Optimus Alive!2010.

Nascido nos Estados Unidos, em Julho de '42, morreu aos 67 anos. Fez parte dos Elf, e dos Rainbow, antes de integrar os Sabbath. Formou mais tarde os Dio e regressou aos Black Sabbath em 1992.

quinta-feira, maio 06, 2010

"Desapareceu um carro dos bombeiros", Maj Sjowall, Per Wahloo

Policial bastante diferente do estilo a que me tenho habituado, em relação a este género.

Já estou mais habituado ao estilo inglês e belga (Maigret é francês, mas o autor é belga).

Menos ligado aos exercícios de lógica, esta história de autores suecos faz lembrar um qualquer thriller policial norte-americano; movimentado, com muita acção e tiroteios à mistura. E isto não é uma crítica.

A verdade é que, por não estar habituado a este estilo, eu já não sabia o que esperar do desenrolar da história e muito menos adivinhava o seu desfecho.

E, mais uma vez, sem querer levantar o véu em relação ao final, também este é comparável a um fim de um thriller norte-americano do cinema de Hollywood.

No final, apesar de não ter muita vontade de repetir a dose, o saldo é positivo.

"Laudamus Vita", Easyway

Uma vez, quando era adolescente, comecei a escrever uma história parecida, em estilo, com esta. Cheia de questões filosóficas - num ambiente negro, de contornos carregados.

Mas era adolescente, passou-me.

Em termos de história não achei nada de espectacular, embora não possa dizer que o filme é mau. Eu é que já não tenho paciência para estes pseudo-intelectualismos e, por isso, passo à frente.

Ainda assim, convenhamos, aquilo que se vê no filme é muito bem feito, mesmo em termos de argumento e , sobretudo, em termos de imagem. Uma vez que a história é muito narrada e vive muito das imagens que nos vão dando o seguimento da história, é preciso destacar a forma como isso é conseguido, muito bem conseguido.

De resto, banda-sonora da banda que produziu o filme, os Easyway.

E acho que esta iniciativa de música - álbum novo - mais filme deve ser muito bem recebida, porque mostra que em Portugal há artistas que trabalham e se esforçam por fazer mais do que gravar discos. Este projecto, de acordo com as explicações na apresentação do álbum e nos sites da banda, foi fruto de muito esforço e muito trabalho, porque partiu e desenvolveu-se no conceito Do it yourself - o que normalmente quer dizer que apoios houve "zero".

Por fim, nota de curiosidade: o protagonista da história, vim depois a saber, é ou foi colega de uma amiga minha, que se recorda de ele estar envolvido no projecto, de se encontrar a trabalhar nele.

Uma coisa é certa: o nome Easyway já não me é nada indiferente e, até, gostava de assistir ao lançamento oficial do novo álbum (+ filme) (...este lançamento na Fnac assinalou a colocação do trabalho à venda na cadeia de lojas Fnac), que vai envolver um concerto e projecção da dita longa-metragem.



quarta-feira, maio 05, 2010

Easyway, Fnac Chiado, 3 Maio

Na Fnac a apresentar o seu novo álbum e a longa-metragem "Laudamos Vita" - conceito inédito em Portugal, um pack que inclui o trabalho em audio, filme, making of e video-clip do primeiro single - "The viewer".

Atitude descontraída, de quem ainda se diverte muito a fazer o que gosta e que ainda sente o gosto especial de viver um sonho - sem deixar de ser fruto de muito trabalho e dedicação.

Confesso que antes da actuação não estava muito entusiasmado, mas a verdade é que depois de ouvir um pouquinho da música que tocam, esperei hora e meia para ver uma actuação de meia hora.

Embora sem uma sonoridade muito inovadora ou original, pareceu-me tudo muito bem executado e com uma identidade própria, nomeadamente pela voz, mito agradável e que dá então uma identidade muito própria à banda.

Conseguiram compor uma sala muito boa e criaram boa empatia com os presentes - aliás, para o último tema pediram que se levantassem todos e assim aconteceu, resposta maquinal e sem hesitação dos presentes.

No final da actuação, o tipo que estava à minha frente, olhou para mim e disse-me "Tá feito ou não tá?!"

"Então não está", pensei eu...

Uma das coisas que mais gosto nesta banda é o vocalista, que tem uma voz muito potente, com grande atitude. E já agora, porque não acrescentar: vi alguns vídeos da banda e o tipo era enorme (gordo, pronto...) e agora está com uma forma invejável. Muito bom para ele. É que a diferença é incrível.

Em baixo, um vídeo porreiro da banda...

"S. Frei Gil", Eça de Queirós

Um em três - em três contos do Eça de Queirós, este foi o mais apetecível.

Mais um livro que recomendo aos mais novos que queiram começar a ler alguma coisa de autores consagrados - e aos pais que tenham um bocadinho de vontade de se envolver na educação dos filhos e que não se queiram limitar a comprar livros da moda (sim de vampiros, essa recente praga).

História de aventura que anda muito próximo das histórias de capa e espada, não havendo no entanto, ao longo da história cenas muito declaradas de aventura ou acção.

De resto, pouco a acrescentar - a escrita sempre conseguida, cheia de descrições mas fluente do autor de "Os Maias".

Kandia, Fnac Chiado, 2 Maio

Oriundos do Porto, os Kandia vieram a Lisboa apresentar o seu trabalho de estreia, "Inward Beauty, Outward Reflection".

Numa toada rock, a banda nortenha faz uma grande aproximação ao metal mais melódico, embora se apresentem nas Fnacs do nosso país num formato unplugged, ou, na língua de Camões, formato acústico.
Apesar de tocarem nos lugares comuns deste estilo, mostram dominar bem estas ambiências o suficiente para apresentarem temas fortes e algo refrescantes - parecem ter a lição bem estudada.

A vocalista, que tem alguns trejeitos um pouco repetitivos, tem uma grande voz; secção rítmica muito boa, sobretudo o baixo, com umas linhas muito interessantes; das guitarras, gostei da transposição para o formato acústico por não se limitarem a ser isso, uma transposição. Riqueza de trabalho na guitarra acústica.

Banda interessante. A seguir.

A Jigsaw, Fnac Colombo, 1 Maio

Porque a noite era de saída e o tempo sobrava, fui ao local do costume para comer e munir-me do que precisava para seguir em direcção ao centro da cidade.

E um pouco por acaso, passei, talvez até por já ser um hábito enraizado, na Fnac do Colombo para tomar um café. E, como dizia, um pouco por acaso, apanhei a apresentação do álbum dos A Jigsaw, "Like the wolf - Uncut".

"Quarteto indie multi-instrumentista", avança a "Fnac Agenda"; bebem muito mais da Folk, do country e dos blues, e, atrevo-me a dizer, da escola de Nick Cave.

Depois de uma tourné europeia, onde viveram algumas peripécias que foram contando, como que ilustrando este pequeno concerto, a banda apresenta este novo trabalho, dois anos depois do lançamento do seu trabalho de estreia, "Letters from the Boatman".

Devo dizer que gostei bastante e recomendo a quem goste de folk e blues e mesmo a aqueles que gostam de ambientes pouco festivos, àqueles que sintam o prazer do escuro depressivo, sem perder, no entanto, o gosto pelas boas histórias.

Tim, Fnac Chiado, 30 Abril

A apresentar o álbum "Companheiros de aventura", o vocalista dos Xutos e Pontapés fez-se acompanhar por acordeão e guitarra eléctrica.

A solo, Tim tem uma voz agradável e quase parece saber cantar.

Sonoridade algo refrescante, na medida em que não se parece com nada muito evidente. Não soa àquele som típico dos artistas pop da nossa praça, ou aos habituais cantautores.

Tem, isso sim, um ligeiro travo, em alguns temas, a música country, que no nosso país é algo inédito. Não me parece que vá ouvir o disco, mas foi um simpático momento de música ao vivo.

terça-feira, maio 04, 2010

Samuel Úria, Fnac Chiado, 29 Abril

Samuel Úria apresentou-se na Fnac do Chiado, algum tempo depois dos Deolinda deixarem o palco - "Quero agradecer, antes de mais, aos Deolinda por terem aberto para nós. Os miúdos fazem-se", disse, com humor, um Úria algo tímido, mas divertido.

Efectivamente a banda mais divertida do fado nacional tinha enchido aquela Fnac de gente e, tal como eu, muita gente ficou para, duas horas depois, assistir à apresentação do homem de "Nem lhe tocava", o título do álbum mais recente do músico da FlorCaveira.

Aliás, a editora de Queluz não estava apenas representada por Samuel Úria, que se fazia acompanhar por alguns músicos, nomeadamente dois elementos dos Pontos Negros.

Com alguns temas fortes, a apresentação valeu muito pelo ambiente descontraído que Úria imprime nas suas conversas. Aliás, à imagem de Tiago Guillul, que por acaso vi actuar há uns anos na Fnac do Colombo, naquilo que se veio a transformar numa onda gigante de trabalhos assinados pela editora FlorCaveira.

Muito bom.

"Um contra o outro", Deolinda - do álbum "Dois selos e um carimbo"

Deolinda, Fnac Chiado, 29 Abril

Promoção do novo álbum, "Dois selos e um carimbo".

Quase uma hora antes da apresentação já o bar da Fnac estava cheio.
Ver os Deolinda ao vivo é um exercício de boa disposição; mesmos os testes de som são animados e com tanta gente a ver, fazem de tudo uma bela experiência. Pelos aplausos no fim de cada tema interpretado, mesmo que com apontamentos técnicos e conversas à mistura, quase parece que temos direito a assistir a duas actuações.

Os Deolinda parecem já ter uma máquina bem afinada e um espectáculo bem montado.

Já foi a quarta vez que os vi ao vivo e de resto a energia é sempre a mesma - animação, festa, boa disposição. E boa música, que a fama que já os precede não se deve só aos seus lindos olhos.

Segundo ouvi dizer, têm actuação prevista Mafra - pretendo lá ir.

Virgem Suta, Fnac Colombo, 29 Abril

A propósito da reedição do seu álbum de estreia, dois temas novos e um DVD com oito músicas ao vivo e também a propósito do "Dia do aderente", na Fnac, a banda portuguesa preparou uma pequena apresentação.

Confesso que tinha curiosidade para os ver ao vivo para ver se a imagem que tinha deles melhorava - não por falta de qualidade, mas porque realmente não me diziam nada.

Começada a música, ficam marcas muito interessantes.

Se aquilo que fui ouvindo na rádio não me dizia nada (em parte porque não gosto muito da voz), ao vivo soa tudo muito bem e a dupla é muito divertida, têm muito bom humor. A certa altura consegui esquecer todos os preconceitos que tinha com eles e gozar toda a riqueza que mostram ao vivo e com pouquíssimos recursos, mais não fosse por apenas duas pessoas tocarem vários instrumentos.

Gostei muito daquele bocadinho.

MusicBox Docs - Dealema - 28 Abril, Cinema S. Jorge

Depois do doc sobre o JP Simões parecia-me que qualquer documentário desta série da MusicBox (em parceria com o Indie Lisboa) seria de extremo interesse e, até, porque não, de extrema importância.

Mas não. Uma entrevista e a sua qualidade ainda se definem pela qualidade e interesse do convidado, por mais técnicas jornalísticas que se desenvolvam.

O discurso desta banda, os Dealema, que tem por base o Hip Hop, é o habitual neste tipo de bandas - elaboradas teorias sobre independência no que toca a tendências e fórmulas.

Como são do Porto, e desculpem se estou a ser tendencioso, têm também presente um discurso bairrista, como que justificando a sua postura independente por ser uma marca daquela cidade, demasiado "inteligente" para embarcar em comportamentos massificados, ou seguir modelos artificiais vindo, nomeadamente, da televisão.

O documentário, do ponto de vista técnico e toda a sua construção parece estar mais que conseguido; mas o tema da peça, esta banda, com um discurso tão centrado nestas ideias de grande postura independente acabam por ser cliché.

E não nego que eles até possam fazer as coisas de forma diferente, sem seguir alguma fórmula já existente - acho é pouco, num documentário de uma hora, uma banda limitar-se a dizer sempre o mesmo.

domingo, maio 02, 2010

Fernando Tordo, Fnac Chiado, 28 Abril

Com pouco tempo para ficar e ver a apresentação toda (ou pouco ou nada), aproveitei os momentos que antecederam o início.

Chegada das pessoas, o piano no seu sítio, as palavras de apreço pela vinda - sala da Fnac quase cheia antes da hora.

Já fixo nesta Fnac a rapariguinha de ar divertido que vai repetindo "desculpe, tenho que fechar a janela" - e assim o faz. Cria-se um cenário acolhedor.

Olho para trás e vejo o Fernando Tordo a beber uma garrafa de água, encostado ao balcão. Pergunto-me se para ele é só mais uma garrafa de água antes de uma actuação, ou se consegue distinguir esta das outras vezes que subiu a um palco.
Já falta pouco para ter que partir e pergunto-me quando começará a apresentação.

Já ouvimos testes de microfone e um pouco de piano, maravilhoso, suave, quase a musicar, por coincidência, claro está, o texto que tinha escrito esta tarde.

Olho de novo para o palco e reparo nalgumas moscas que dançam; uma, duas, três, quatro e mais duas, em volta umas das outras - e nas cadeiras, sentados, zum-zuns.

Apercebo-me que o pianista é o Pedro Duarte, conhecido por colaborar com o Herman José e começa a apresentação...e para mim acaba. Assim, drasticamente. Não tenho paciência para o estilo do Fernando Tordo e até percebo que tenha alguma qualidade, mas não me atrai.

E além do mais, aguardava-me, mais acima da cidade, uma sessão do Indie Lisboa. Parto.

"Contos que contam", Vários autores

Compilação de pequenos contos de vários autores, que escrevem em português.

Sem aparente fio condutor que ligue as várias histórias (embora nos seja dito no press-release que acompanha o livro que "é um livro de histórias humanas que espelha valores humanitários como a esperança, o altruísmo, a solidariedade e a entreajuda"), o livro parte de uma iniciativa do Centro Comercial Colombo, reverter para o IAC - Instituto de Apoio Á Criança. "Parte significativa do reço de capa destina-se a apoiar o Projecto Rua do IAC - Instituto de apoio à Criança", pode-se ler no prefácio.

Quanto às histórias, nada de muito espectacular. Algum destaque para o apontamento de José Eduardo Agualusa e o conto de José Luís Peixoto, os mais interessantes.

Ainda assim, na verdade, nada de muito interesse; vale sobretudo pela iniciativa, já que nem a publicação, a qualidade do livro, do objecto físico, ou os arranjos gráficos e ilustrações revelam grande qualidade.

Musicbox Docs, festival Indie Lisboa

Documentários sobre bandas portuguesas - esta primeira série (não sei se não vão surgir mais) incidiu sobre cinco bandas ou figuras ligadas à música, nomeadamente JP Simões, Micro Audio Waves, Terrakota, Dealema e X-Wife e surgem numa parceria entre o MusicBox e o Indie Lisboa.

As entrevistas foram conduzidas pelo jornalista Mário Lopes (que estava presente nas duas sessões que assisti) e os documentários foram realizados por Paulo Prazeres.

Recomendo vivamente o Doc sobre o JP que tive oportunidade de ver e, como mencionei aqui, foi muito bom, muito rico.

Agora a parte mesmo boa - quem não teve oportunidade de assistir às sessões no Cinema S. Jorge, onde foram exibidos estes cinco documentos, vai ter a oportunidade de os ver na RTP2, de 10 a 14 de Maio, às 00h30. É uma questão de estarem atentos à programação do canal para saberem melhor quais são os dias em que passa qual documentário.

sábado, maio 01, 2010

Workshop: o músico e a linguagem musical (com Mike Gaspar - Moonspell)

Tarde de muito calor e muito sol; ambiente estranho para uma sessão metaleira. No entanto, o espírito da sessão não era virado para o mosh-pit, nem para o head-banging. Tratava-se de um final de tarde descontraído, em amena cavaqueira, por assim dizer, momento de aprendizagem e troca de experiências.

O baterista de Moonspell acabou por desenvolver ideias e conceitos muito simples, mas que funcionam como dicas e ideias soltas que focaram não só o trabalho de bateria e seus aspectos técnicos, mas também noções que se aplicam ao som geral de uma banda.

Um aspecto em que insistiu muito foi a necessidade de ouvir os outros elementos da banda, dando por exemplo que se existe um momento em que há uma parte mais importante de voz, o baterista, neste caso ele, não se deve por a fazer grandes apontamentos de bateria, como sejam "breaks".

Pode parecer bem óbvio e ideias pouco elaboradas, mas são conceitos essenciais e que ajudam a definir a qualidade de uma banda e, mais importante, nem sempre são lembrados na hora de construi um projecto sólido.

Por fim, com um dos guitarristas seu companheiro de banda, nos Moonspell, interpretaram, com a ajuda de alguns samples, 3 temas da banda de metal portuguesa.

Muito bom.

MusicBox Docs - JP Simões (26 Abril, Cinema São Jorge)

Primeiro de uma série de documentários sobre bandas portuguesas, desenvolvidos pelo MusicBox em parceria com o Festival Indie Lisboa.

Entrevistas dirigidas pelo jornalista Mário Lopes e realizados por Paulo Prazeres.

JP Simões

Há uns anos atrás desloquei-me a Torres Novas, no caso às festas da cidade, para ver uma banda na qual tocava um tipo que, à data, tinha sido meu professor de música.

No entanto, depressa soubemos que não era essa banda que actuava nessa noite, antes os Belle Chase Hotel, de Coimbra. Nunca os tinha ouvido tocar, mas tinha algumas noções de quem eram.

Acabou por ser uma óptima noite de música e acabei por, mais tarde, ver uma das vocalistas da banda junta-se aos Wraygunn, projecto do também conimbricense Paulo Furtado.

Quanto a JP, o carismático vocalistas dos Belle Chase, soube-o no projecto Quinteto Tati e mais tarde a enveredar numa carreira a solo.
Embora sem conhecer bem o seu trabalho, sei-lhe as sonoridades, vindas da música brasileira, nomeadamente quase decalques de Chico Buarque - assunto nada tabu para JP, que assume essa influência.

Agora, confesso, sou mais fã da figura e das opiniões do escritor, compositor, cantor, do que propriamente da sua música. Gosto do seu sentido de humor e das suas opiniões sobre assuntos vários e, até, sobre banalidades.

Com tanta gente sem talento nem nada para dizer a escrever livros, pergunto-me: para quando um livro, JP?

Projecto Bug, Casa do Povo Mafra, madrugada de 25 Abril

Noite muito invulgar em Mafra - noite de Verão e um amontoado de juventude, pais e mães de família, crianças.

Casa do Povo, local insuspeito.

O Projecto Bug é um projecto musical e humorístico de bastante qualidade, como o único defeito de fazer lembrar de mais os Ena Pá 2000. Ambiente burlesco, surreal, desafiador.

Com 18 elementos em palco, nada menos, atiraram-se a clássicos com o "Big Spender", celebrizado por, entre outros, a banda inglesa Queen e o "Hit the road Jack", o tema mais cantado e esgotado pelos presentes no palco e pelo público presente - diria que entre 100, 150 pessoas, assistência muito razoável. Sobretudo, se considerarmos que a publicidade no caso desta banda é o boca-em-boca.

Como espectáculo de família, ou "para" famílias, houve o inevitável intervalo - 2h depois, nada de chocante, portanto. Oportunidade então para falar com um dos elementos da banda, um dos "teclas". Aproveitei para colocar algumas questões que o solícito músico prontamente esclareceu. Entre uma cerveja sorvida com a sede que a noite suscitava, confessou alguma satisfação com o projecto e o típico conformismo português no que respeita a dificuldades. O projecto já conta com 3 anos de existência, alguma estabilidade na formação e uma boa bagagem de concertos e actuações, essencialmente naquela região.

"Fora de portas", por assim dizer, têm uma actuação marcada para Lisboa, na zona de Alcântara numa, imagine-se, embarcação.

Regressados à sala, um discurso amargurado com essa data que parece ir-se perdendo no tempo, a dos cravos, pela pena e boca de uma figura que, aparentemente, será muito conhecida em Mafra, um professor, escritor, poeta. Embora um pouco utópico, arrepiou-me, ri e aplaudi no final - o homem mordeu e comeu o cravo que trazia na mão.

Subiu então um jovem, um João qualquer coisa, que, sozinho, de guitarra em punho, para mim, só convenceu quando pôs toda a gente a "cantar" o Sérgio Godinho.

E, foi nessa altura que vim cá para fora refrescar a garganta, enegrecer o pulmão e criar alguma riqueza na minha cabeça, conversando sobre música sem parar. Nas duas horas seguintes fui seguindo o alinhamento da banda, através do som que saía das janelas abertas da Casa do Povo de Mafra, parando por vezes a conversa para saudar um ou outro tema.

Feliz noite de festa e boa entrada no 25 de Abril.

Patrícia

Bom, uma palavra especial para uma das vozes em palco e uma das lead singers.
Além de linda de morrer e das suas longas e perfeitas pernas, reveladas pelo seu curtíssimo vestido, a rapariga tinha uma voz fora de série, incrível e cantava maravilhosamente.

No meio do público, um grupo gritava o seu nome. E eu, qual ovelha invertebrada, seguidista, confesso que fiz o mesmo...

http://projectobug.blogspot.com/

A Naifa, Fnac Chiado, 22 Abril

Sem oportunidade de assistir à actuação, detive-me no bar a admirar as movimentações que a precederam.

Não sei porque carga de água, mas delicio-me a ver a preparação do espectáculo, a montagem de todo o equipamento, as conversas, etc. Claro que esta riqueza de informação que assimilo com gosto é possível porque se trata de um pequeno palco e a proximidade é muito grande.

Ainda tive oportunidade de ouvir um pouco dos seus temas, enquanto iam fazendo som.

Gosto da sonoridade desta banda e é muito interessante vê-la reproduzida ao vivo.
Importante relembrar que desta banda fazia parte João Aguardela, falecido o ano passado. Com Sandra Baptista, não a ocupar o seu lugar, mas a dar continuidade ao seu trabalho, o projecto continua.

A não perder a oportunidade de os ver ao vivo numa qualquer sala de espectáculos.

"Outros belos contos de Natal", vários autores

Obra dedicada à quadra natalícia, reúne alguns textos de autores diferentes, sempre numa abordagem humorística - aliás, o facto de no título se falar em "outros" contos de natal não é de todo inocente.

Assim, pode-se dizer, temos uma série de disparates relacionados com o Natal.

As histórias mais rebuscadas serão, talvez, as assinadas por Bruno Nogueira e Manuel João Vieira, sobretudo este último que envereda pelo seu estilo absurdo e burlesco.
Talvez possa parecer desenquadrado para esta altura do ano, mas a verdade é que a nota dominante é o humor e isso é muito conseguido, agora ou no Domingo de Páscoa.

Fazer humor é quando um homem quer, se me é permitido o cliché.

"Boca do Inferno", Ricardo Araújo Pereira

Compilação de textos da crónica semanal que Ricardo Araújo Pereira (RAP) assina na Visão.

Observações jocosas da actualidade, interessantes e divertidas; à data da sua edição (e ainda mais agora) perdido no tempo na medida em que, remetendo para a actualidade, aborda assuntos que já se passaram.

Ainda assim, muito válido e com muito sentido de humor.

À conversa com Mão Morta, Fnac Chiado, 19 Abril

Apresentação do novo álbum da banda bracarense, "Pesadelos em peluche".

A base da conversa foi o lançamento e apresentação do álbum, mas tratou-se no fundo, de uma conversa informal, sobre este último trabalho, mas também sobre a carreira da banda.

Curiosa, a meu ver, a postura dos músicos em relação à música que fazem. Uma banda, ou talvez até mais um vocalista (Adolfo Luxúria Canibal), a que se associa uma tão vincada voz crítica, para depois revelar um tom muito moderado, mostrando-se descontraídos e com uma visão lúdica da arte que criam. Referem-se ao seu início de carreira, de iniciação musical, como a resposta a um tédio juvenil e, nos dias de hoje, mais velhos, resposta ou escape a um quotidiano rotineiro, de compromissos profissionais e responsabilidades.

Mesmo confrontados com uma certa subversão que se lê por parte da banda em relação um suposto "bafio" clerical que reinará em Braga, sua cidade natal, Adolfo Luxúria parece ser brando, dando, no entanto, "uma no cravo e outra na ferradura".

Não pude assistir à conversa toda, com pena minha, mas, em geral, prendeu-se com esta sonoridade mais directa, mais simples e mais em formato canção que o novo álbum manifesta.